segunda-feira, 26 de outubro de 2009

FOTOS DO SÍTIO SANTA LUZIA

Estas fotos são do Sítio Stª Luzia, de propriedade do Sr. Sérgio Guimarães, única referência do estado na produção do mel de abelhas uruçu. O Sítio está aberto para visitação, para todos quantos quiserem ver esta maravilha da natureza.


















quinta-feira, 15 de outubro de 2009

URUÇU ABELHAS SEM FERRÃO

Apesar de ter sido trazida da Europa somente no século passado e da África neste século, conhecemos a abelha africanizada (Apis mellifera) muito bem. Seu mel e outros produtos são amplamente comercializados em todo o mundo, suas picadas são famosas, e muitos aspectos da sua biologia foram minuciosamente estudados - até Aristóteles já escreveu sobre elas. Não ocorre assim com as abelhas sem ferrão: como são quase uma exclusividade dos trópicos, não chegaram ao conhecimento ocidental até que os naturalistas se aventuraram nas expedições ultramarinas nos últimos séculos. No entanto, já nos códices (livros) maias pré-colombianos se explicava como criar espécies de abelhas sem ferrão que tinham importância econômica ou religiosa. Também os índios kayapó revelaram um conhecimento assombroso da anatomia e comportamento das espécies das quais ainda aproveitam o mel, o pólen e as larvas para alimentação; o cerúmen e as resinas para confecção de artefatos (inclusive flechas), e misturas de abelhas e partes do ninho na medicina - além de mitologicamente se espelharem nestes animais para entender a origem e organização da tribo.
Para entender as abelhas sem ferrão, falemos um pouco das abelhas em geral. Todas provêm evolutivamente de um grupo de vespas que deixou de fornecer presas (como aranhas e insetos) a seus filhotes, substituindo a necessidade de proteína para o desenvolvimento das larvas com o pólen coletado das flores. Contrário à imagem popular, das 20.000 espécies de abelhas atuais, a maioria é solitária: não tem colônias, nem rainhas, nem operárias. Só umas poucas vivem em complexas sociedades com requintados sistemas de comunicação e cooperação.
E dentro destas, somente se multiplicam em enxames o grupo das abelhas Apis (que comentávamos no início), e o grupo que estamos tratando agora e cujos representantes mais populares são a jataí (Tetragonisca angustula), uruçu (Melipona scutellaris), tiúba (Melipona compressipes), jandaíra (Melipona subnitida), borá (Tetragona clavipes), mandaçaia (Melipona quadrifasciata), etc.
O fato mais marcante destas abelhas é justamente que a espécie antepassada que deu origem a este grupo perdeu o ferrão. Isto provavelmente está relacionado com o fato de a colônia não ficar exposta quando as abelhas enxameiam (elas se dividem e mudam de casa "pouco a pouco") e a construção de ninhos ser geralmente em lugares bem protegidos. Com efeito, dificilmente veremos as abelhas sem ferrão se caminharmos numa floresta desatentos, e claro, nunca tropeçaremos com um enxame delas.
Seus ninhos são um espetáculo aparte de arquitetura e organização. Geralmente se alojam em cavidades de tamanhos adequados as quais elas acabam de acondicionar com barro, cera e resina. Estas cavidades podem ser ocos de velhas árvores, cipós ou bambus, em ninhos (abandonados ou não) de aves, cupins e formigas e até tijolos ocos, frestas nas paredes, cabaças, panelas... Os ninhos mais fáceis de ver são das espécies que constroem sobre as árvores, e que podem chegar a ter cerca mais de 100.000 indivíduos, como o da famosa irapuá (Trigona spinipes). A entrada (também muito variável conforme a espécie: desde enormes "bocas de sapo" feitas de barro, até "canudos" de cera que são fechados a noite) nos conduz a um mundo fantástico, construído basicamente de uma mistura da cera secretada no dorso das abelhas e resina coletada de plantas (o própolis). Esta combinação chamada de cerume não é casual, pois unem-se as características de maleabilidade e isolamento térmico da cera com o poder antibiótico das resinas. Este material é manipulado incessantemente por operárias para a construção de colunas, potes de pólen e mel, lâminas de isolamento térmico e as células de cria. Aliás, merece uma menção especial o processo de aprovisionamento e oviposição de cada célula, pois para que possa construir-se estas células de cria, aprovisiona-las com alimento, a rainha depois botar o ovo e finalmente ocorrer o fechamento da célula, existe um processo de sincronização, ritualização e interação que não é encontrado em outros animais (nem em outras abelhas).
A organização social destas abelhas apresenta assim muitas peculiaridades que são desafios científicos: por exemplo, o apicultor comum estranhará o fato destas colônias estarem sempre produzindo rainhas que na maioria das vezes serão simplesmente mortas pelas operárias. As equipes científicas brasileiras e de diversos países tem contribuído muito, e ainda vem trabalhando para o esclarecimento destas questões. Mas também existem aspectos das abelhas sem ferrão que interessam não só à ciência, mas à economia e à sociedade em geral, e que atualmente não são suficientemente percebidos e aproveitados:
1) Muitas espécies produzem um mel de excelente qualidade - incluindo-se alguns dos quais a medicina popular atribui qualidades terapêuticas. Existem amplas possibilidades econômicas abertas neste campo, como ilustra o fato de os japoneses já terem oferecido pelo mel de jataí 5 vezes o preço do mel de Apis. Queriam 5 toneladas, não acharam nem 5 quilos!
2) A criação de abelhas sem ferrão é muito fácil até na cidade. A docilidade da maioria das espécies e seu comportamento fascinante as tornam um excelente material lúdico para os adultos e um instrumento de educação ambiental para as crianças;
3) Seu papel chave nos ecossistemas dificilmente é apreciado na sua plenitude. As abelhas campeiras, ao coletar o néctar e o pólen, visitam quase todo tipo de arbustos e árvores com flores, servindo assim de agentes polinizadores: verdadeiros "cupidos" das matas e plantações. É significativo que certas espécies de abelhas sem ferrão já sejam criadas pelos próprios agricultores para polinizar seus cultivos. Esta prática - comum com Apis e mamangavas - esta sendo aplicada até a certos cultivos de estufa (como a nossa iraí que está sendo usada no Japão na polinização do morango).
Mesmo assim, com toda a importância que este grupo possui para o homem, surpreende que em estudos atuais sobre diversidade de abelhas na natureza, ainda novas espécies sejam descritas. Se isto produz uma grande satisfação científica, outro dado é motivo de sincera preocupação: a destruição acelerada dos ecossistemas naturais está condenando várias espécies a uma existência limitada às gavetas dos museus (ou nem isso). Mesmo onde ainda há matas em bom estado - o único ambiente possível para muitas espécies - é comum a destruição dos ninhos para a coleta predatória do mel. As espécies que conseguem sobreviver em ambientes modificados pelo homem também enfrentam sérios problemas: é fácil imaginar qual é o impacto nos polinizadores da própria lavoura (e na dos vizinhos) com uso irresponsável de inseticidas. Neste último caso o efeito econômico não se faz esperar, pois com menos polinizadores a produção agrícola tende a cair.
Podemos supor que o mundo era bem diferente quando os dinossauros ainda dominavam a paisagem e os antepassados do homem eram uns pequenos insetívoros que habitavam a noite da floresta. Mas nessa época, há 80 milhões de anos, as abelhas sem ferrão já estavam lá e cumpriam seu papel de polinizadores ao visitar as flores que recentemente tinham feito sua aparição na paisagem. Para que estes seres tão benéficos para os ecossistemas tropicais e para o próprio homem continuem existindo temos que tomar medidas, que aliás são as que todos já conhecemos, e que não ajudam só às abelhas, mas a muitas outras espécies - inclusive ao homem. Essas medidas são a proteção dos ecossistemas, o uso sustentado dos recursos naturais, o respeito às leis ambientais vigentes e a implementação da educação ambiental desde a escola. Se considerarmos que no território que o nosso país ocupa se encontra nada menos que metade das 400 espécies de abelhas sem ferrão, percebemos que também neste caso, além de privilegiados donos de um enorme potencial natural a ser explorado, também somos depositários de uma responsabilidade extraordinária frente à presente e às futuras gerações.
Espécies
As abelhas pertencem a família Apidae. Esta família possui duas subfamília:
Meliponinae - São sem ferrão, chamadas de abelhas indígenas, vivem em regiões subtropicais e tropicais. Possuem três tribos: Lestrimellitini, Trigonini e Meliponini;
Apinae - Encontramos os gêneros Apis e Bombus que possuem ferrão. No gênero Apis encontramos quatro espécies entre elas esta o Apis Mellifera que é a espécie mais utilizada para a produção de mel no mundo todo. Apesar de nossas abelhas indígenas não possuir ferrão, elas não são largamente utilizada para a produção de mel, porque sua produção e baixa em relação as abelhas sociais do grupo das africanizadas;
Apis Mellifera Adansonii - Habitam da África do sul até o sul do Saara. São abelhas muito agressivas, polinizadoras e enxameadoras. Foram introduzidas no Brasil por volta de 1956;
Apis Mellifera Lamarckii - São encontradas no vale do rio Nilo, também conhecidas como "Abelhas egípcias". São muito bravas, de baixa produtividade e não se adaptam muito bem as diversas praticas apícolas;
Apis Mellifera Ligustica - chamadas de "Abelhas Italianas", são encontradas na Itália e no litoral norte da Iugoslávia. São muito mansas, ficam calmas nos favos quando se faz o manuseio, são pouco enxameadoras. Foram introduzidas no Brasil por volta de 1879/1880;
Apis Mellifera Mellifera - Chamadas também de "Abelhas do Reino", são encontradas por quase todo a Europa. São muito mansas, mas ficam muito agitadas durante o manuseio.